A Guerra do Iraque transformou em realidade uma das cenas mais clássicas no cinema hollywoodiano. Ao se preparar para uma incursão contra insurgentes em Bagdá, soldados norte-americanos avançaram rumo ao combate ao som da “Cavalgada das Valquírias”, de Wagner, tocado nos autofalantes de tanques.
Graças aos avanços tecnológicos recentes, a música finalmente se tornou portátil, e passou a ter uma presença marcante na experiência de soldados em conflitos armados pelo mundo, especialmente no Iraque.
Esta vivência real do que Francis Ford Coppola mostrou ao mundo em “Apocalypse Now” (na ficção eram helicópteros no Vietnã) foi relatada por soldados a Jonathan Pieslak, musicólogo que analisou a relação entre os militares e a música durante a invasão do Iraque, e que lançará um livro sobre isso no próximo mês.
“A música funcionava como inspiração para o combate. Os soldados contam que usavam o comunicador interno para que todos pudessem ouvir as mesmas músicas”, disse Pieslak, em entrevista ao G1, por telefone. Segundo ele, é natural que cada soldado tivesse sua própria relação com a música, dependendo do trabalho que era feito e do próprio gosto de cada um. Mesmo assim, a maior parte dos entrevistados da pesquisa disse usar a música como inspiração antes de combates, assumindo uma mentalidade agressiva e ficando em estado de alerta durante as missões. “Ela ajudava eles a se concentrarem, terem foco na missão”, disse.
Na hora em que o combate de fato começava, entretanto, os soldados relatavam que deixavam de ouvir qualquer coisa que estivesse sendo tocada, tamanha a concentração, disse Pieslak. O livro “Sound Targets: American Soldiers and Music in the Iraq War” (Alvos sonoros: soldados americanos e a música na Guerra do Iraque) vai ser lançado em maio nos Estados Unidos, e vai reunir a resultado de uma série de entrevistas realizadas desde 2004 com militares que estiveram nesta guerra e em conflitos anteriores.
Se a música já fazia parte do cotidiano de soldados em outros conflitos da história, o grande diferencial da situação no Iraque foi trazido pela tecnologia. “Ela mudou a relação dos soldados com a música. No Iraque, eles tiveram a oportunidade de lidar com músicas de forma sem precedentes”, disse Pieslak. Isso vai de notebooks e MP3 players e Ipods a mesmo a capacidade de criar e gravar música.
“Todos os soldados têm suas músicas, e eles conseguem se relacionar com elas de forma íntima. Soldados da primeira guerra no golfo (1990-91) relataram que, por mais que tivessem alguns toca CDs na época, a tecnologia colocava uma barreira entre eles e a música, e eles contam que gostariam de ter Ipods e coisas do tipo naquela época”, disse.
Além de ouvir músicas, agora os soldados também podem criar as suas própria. “Acho que isso sempre aconteceu, de soldados comporem canções, mesmo que fosse de brincadeira, fazendo paródias. A diferença é que agora é fácil ter programas de computador que permitem que eles gravem discos inteiros no contexto do combate.
"Isso é algo que só aconteceu agora no Iraque.” Pieslak disse ter ficado impressionado com a quantidade de músicas sendo compostas pelos soldados, e especialmente com a qualidade dessas músicas. Segundo ele, há coisas interessantes que vão além do rock, do country, do rap.
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