O filósofo Jean Baudrillard morreu em Paris, no ano passado, certamente com uma sensação de que justiça foi feita. Muito criticado pelo suposto exagero de suas teses em relação ao papel da simulação do real no capitalismo moderno, nos últimos anos de vida foi reverenciado pela indústria cultural - no filme Matrix, do qual ele não gostou - e parecia estar numa escalada de reconhecimento justamente pela comprovação de suas idéias.Baudrillard criticava o evaziamento de sentido das experiências a partir do momento em que são registradas e reproduzidas de forma viral. Se está difícil de entender , tente lembrar quantas vezes você já curtiu uma música de um show inteirinha pela tela do celular, enquanto filmava o artista.
No mundo dos espetáculos, a obsessão pelo registro mudou a dinâmica no palco e nos bastidores. Para o músico Thedy Corrêa, do Nenhum de Nós, durante o show as câmeras atrapalham pouco. Já no depois do show...
"Quando as pessoas entram no camarim, pedem autógrafo e foto e demoram mais para sair. Assim, demora mais para as outras pessoas entrarem. Chega uma hora que uns desistem ou fica tão tarde que não dá tempo de receber todos. Fico um tempão depois com a "sombra" do flash em minha retina."
O fenômeno de "todos virarem japoneses" é, de fato, inevitável, por não haver mais o custo da revelação dos filmes e devido à maior capacidade de armazenar imagens.
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