Bandas de sucesso ditam o estilo da rua

A receita é de Genne Simmons, baixista da banda Kiss, que trocou (pelo menos por enquanto) os palcos pelos realities shows:

– Nem precisa saber cantar muito. Mas atitude e um visual incrível são fundamentais para o sucesso.

Simmons, que hoje ensina na tevê adolescentes a montar uma banda de rock, é por si só uma referência de visual incrível com talento vocal limitado. Ele próprio repete isso, e quem duvidar é só ligar a tevê para vê-lo fazer troça de seus agudos e graves. Ok, a idéia não é sair na rua com a cara pintada de branco e preto, tal e qual o Kiss, mas a maquiagem-espetáculo, junto com as roupas de couro, tachas e línguas de fora fez dos roqueiros uma atração paralela no mundo do prêt-à-porter.

Música e moda andam juntas desde sempre e, vide Elvis Presley, Donna Summer, Sex Pistols e, sempre ela, Madonna, algumas estrelas honram o compromisso de ditar, chocar ou, como se diz hoje, “causar” muito mais do que outras. Paul Weller é um dos fundadores do estilo mod na década de 1960 e, se nos permitem, pai dos indies-chiques que hoje ouvem Suede, Oasis e Blur – e enfeitam o bolso do paletó com um lenço.

O inglês é figura fácil em lista de gente bem vestida e também de cabelo estranho, e, além da música, é conhecido pelo gosto por ternos e sapatos mocassins que ele mesmo desenhava e vendia em seu website. O cantor é tão enjoado com o vestir que recentemente declarou ao jornal The Independent que era incapaz de distinguir um roqueiro de um rapper.

– Todos se encaixam na tríade camiseta - jeans - moletom – bradou.

Talvez Paul Weller não conheça Kanye West que contraria o estereótipo do rapper norte-americano vestindo elegantíssimos ternos Ermenegildo Zegna e sentando nas primeiras filas dos desfiles de moda em Paris. Não satisfeito, o cantor ofereceu-se à grife francesa Louis Vuitton para desenvolver uma linha de sapatos masculinos (e eles toparam: Louis Vuitton by Kanye chega às lojas em fevereiro), e lançou-se como estilista da marca Pastelle. Os óculos de Kanye lembram o modelo persiana, sucesso nos anos 1980, mas com funcionalidade zero e estilo 10. Lá fora, são chamados de Shutter Shades e explodiram em vendas depois que o rapper usou uma peça no clipe da música Stronger.

O fabricante dos óculos ficou tão grato a Kanye que desenvolveu só para ele uma versão que brilha no escuro usada na apresentação do Grammy. No dia seguinte, jornais, revistas e sites estampavam o rapper como a figura mais interessante da premiação.

Outra que vai na contramão do senso comum é Beth Ditto, vocalista da banda Gossip, que com seus 1m57cm e 100kg estampa revistas e editoriais de moda.

– Os homens não sabem como é ser mulher e precisar de uma aparência específica para ser aceita. Quero saber quem foi o imbecil que falou que é preciso ser um esqueleto para fazer sucesso – esbravejou para a revista New Musical Express, que a estampou nua na capa. Ela usa modelos à anos 1960, adora perucas, unhas coloridas e scarpins de saltos altíssimos. No palco, prefere sutiã e calcinha.

Provavelmente sem os Klaxons não existiriam camisetas com frases ultragigantes, lenços e gravatas borboleta misturados com camisas pólo, calças justas com cores que variam do verde-limão ao pink e óculos gigantes. Está certo que o visual é a ponta dos anos 1980, mas os rapazes, que nem tinham juízo nessa época, reinventaram a década com uma expressão curiosa: new rave. Apesar de Jamie Reynolds, o vocalista, posar de modesto, foi ele mesmo quem inventou o termo ao tentar explicar a jornalistas e amigos, em 2005, a sua condição de criatura colorida. Os seguidores do new rave gostam de bandas que misturam rock com música eletrônica e se vestem meticulosamente com a “primeira coisa que acham no guarda-roupa”.

– A passarela deles é o palco e de lá o estilo segue para as ruas. Muitas vezes é feito o caminho contrário, mas acredito que, por enquanto, o visual incrível que Genne Simmons exalta só funcione longe do Brasil – observa. Talvez só por enquanto.